domingo, 13 de dezembro de 2020

MONTALVÃO: Comemorações dos 500 anos do Foral - 8/1/2012

 







Fotos: Mário Mendes

MONTALVÃO: 500 anos do Foral

2012 é ano de comemorações dos 500 anos dos Forais de Nisa e de Montalvão. No caso de Montalvão, o processo de comemorações a realizar no próximo ano foi já iniciado através de duas associações daquela freguesia que marcaram para sábado, dia 25, sessões de esclarecimento, procurando envolver a população nas celebrações de tão importante acontecimento.
Assim, por iniciativa da Associação Salavessa Viva realiza-se uma sessão pelas 15 horas, no edifício da ex-Escola Primária em Salavessa.
Mais tarde, pelas 17,30 h na antiga Escola de Montalvão, organizada pela Associação Vamos à Vila terá lugar nova reunião, tendo por objectivo elucidar a população sobre a importância do documento, assinado em 1512 pelo rei D. Manuel I.
Ambas as sessões (em Salavessa e Montalvão) serão conduzidas por Carla Sequeira do Museu do Bordado e do Barro de Nisa.
A Carta de Foral de Montalvão foi concedida pelo rei D. Manuel I em 22 de Novembro de 1512, reconhecendo, assim, a importância desta vila.

"Portal de Nisa" - 25/6/2011


sábado, 12 de dezembro de 2020

AMIEIRA DO TEJO - Poesia - Dia da Mãe

 

AMOR DE MÃE

Amor de Mãe,
Sentimento tão puro e verdadeiro
Esse amor que nos ensina a viver
E nos ajuda a crescer!
O amor de Mãe atravessa fronteiras
Vence todas as barreiras!

Amor de Mãe
Esse amor tão grande
Que te faz sorrir, amara e chorar

Mãe
Se tantas vezes me dizes “Não”
É porque tens sempre razão
Se me dizes “Sim”
É por saberes sempre
O melhor para mim

Mãe, quando me olhas e sorris
Tens tanto para me dizer
O teu olhar terno e sorriso doce
Transbordam de “Amor de Mãe”
E, acredita Mãe, que me faz tão tem!

Se estou doente e triste
As tuas palavras curam-me as feridas
Os teus beijos e abraços
Atenuam a minha dor
E só tu consegues isso.

Com o teu “Amor de Mãe”
Amor esse tão forte e pioneiro
De entre todos, o primeiro
O maior e melhor do mundo inteiro.

Por tudo isto e muito mais
Já vale a pena viver
Nem que seja só para sentir
O teu amor de mãe.

* Dedico a todas as Mães, às mães biológicas, às mães do coração e em especial à minha querida Mãe.
Ana Paula M. N. Conceição Horta - 15/5/2008

OPINIÃO: "Lembras-te do Zé da Silva?"

Foi com esta pergunta que um amigo me abordou, há dias.
O Zé da Silva? Claro que me lembrava do Zé da Silva.
A memória recuou, dez, vinte, trinta anos e lá estávamos nós em Montalvão, na Salavessa, em Nisa, em todas as terras do concelho e outras do distrito, nos tempos de utopia e criação revolucionária, que se seguiram ao 25 de Abril.
O José da Silva Costa no auge da irreverência dos seus 18 anos, cabeleira loura, espessa e longa, "à beatle", queria, tal como todos nós, "mudar o mundo", fazer a revolução socialista, expressa em palavras de ordem como " a terra a quem a trabalha" e tantas outras.
A dureza do trabalho nos campos e a magreza dos salários do trabalhador rural, a emigração para França, a guerra colonial, era a realidade de uma terra, a sua, onde se ouviam histórias intermináveis, sobre a odisseia do contrabando, os relatos dramáticos da guerra civil espanhola, com o ribombar dos canhões, a ouvirem-se, ali bem perto, do outro lado do Sever, a perseguição e o exílio dos republicanos, dos "rojos", muitos deles acolhidos nas povoações da raia.
Não foi, por isso, difícil, antes, natural, ao Zé da Silva, fazer a sua opção política, ainda bastante jovem e no tempo de todas as ideias e inquietações.
Um tractor, um coreto, escada ou pequena elevação onde pudesse sobressair a "voz dos oradores" tudo servia para, nesses tempos de febril agitação, falar às pessoas e tentar passar-lhes a mensagem política e incutir-lhes a ideia de participação na "coisa pública".
Sem estudos por aí além, mas já imbuído do gosto e do prazer pela leitura, o Zé da Silva, surpreendia-nos, amiúde, pelas tiradas filosóficas e pelo arrojo da argumentação, ainda que, o seu espírito militante, fosse orientado noutras direcções.
De um momento para outro, deixei de ver o Zé da Silva. Como muitos jovens deste concelho e país, não esperou para ver o futuro acontecer. Partiu, foi à procura dele. Soube que estivera nos EUA, que de quando em vez vinha a Montalvão, mas há muitos, muitos anos, que o não via.
Até que… Lembraste do Zé da Silva? Claro que lembrava. Ali estava ele, trinta anos depois, à minha frente, primeiro, na plateia dos "opositores" (o único, por sinal) ao titular da cadeira do concurso da RTP "Um contra todos".
Era ele, sem dúvida. O mesmo ar sereno, as ideias amadurecidas, a dialéctica sempre actuante e as respostas a surgirem, certeiras e precisas.
Era fácil adivinhar – conhecendo o Zé da Silva -, onde aquilo iria terminar. Vinte e seis perguntas, sem um trunfo ou uma falha, sequer. Algumas, de domínios do saber que, especialistas, provavelmente, não acertariam. Mas, o Zé da Silva, serena e desconcertantemente, assim como que a dizer que não estava ali, ia falando do seu Alentejo, das suas vivências e das suas raízes, perante a admiração, quase embevecida, do José Carlos Malato.
Foi, pois, sem surpresa, que se sentou na cadeira de concorrente e de onde, com a mesma calma e descontracção, "viajou" até à memória dos seus pais e avós, às histórias que ouvira sobre a "Raia dos Medos", e daí, com desassombro, elogiou os trabalhos para a televisão de Moita Flores, numa crítica, directa e implícita à própria RTP.
O Zé da Silva venceu o concurso. Não me perguntem, quantos mil euros, levou para casa.
Por mim, fiquei feliz, por revisitá-lo, mesmo através da televisão. Não tanto pelo dinheiro que ganhou, mas, apenas, por saber que, trinta anos depois, aquele "bichinho" que se introduziu em nós e chamado utopia, continua bem vivo.
E que, ali, perante uma imensa plateia, que é o "país televisivo", o Zé da Silva mais não fez do que ser igual a si próprio: um cidadão do mundo e alentejano da raia, do Sever, já sem fantasmas nem medos e, hoje, um traço de união.

João da Cruz - Jornal de Nisa nº 222 - Jan.2007

sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

Valorização do Património da Misericórdia de Arez *

Em Setembro de 2009 no I Encontro Internacional de Investigadores de História Moderna surgiu o primeiro contacto para a salvaguarda da Igreja da Misericórdia de Arez. Ponto comum entre a comunicação de Joana Pinho sobre a Arquitectura das Misericórdias quinhentistas e a tese de mestrado de Ana Leitão, estudo monográfico de Arez.
Desta dinâmica resulta a redacção deste texto como relato de boas práticas e forma de sensibilização para a preservação e valorização do património cultural das Misericórdias.
Destacando atitudes fundamentais na intervenção em património cultural: a interdisciplinaridade que assegura uma intervenção coerente, o diálogo entre técnicos e dono de obra, o envolvimento e participação da comunidade; um conhecimento académico credível que servirá de base às decisões e opções da intervenção.
Arez é actualmente uma freguesia do concelho de Nisa, com c. 56 km² e 256 habitantes. Foi vila e sede de concelho do séc. XII a 1836, comenda da Ordem de Cristo e teve foral por D. Manuel em 1517. Do seu património edificado destacam-se: Igreja Matriz e ermida de Santo António que sofreram campanhas de obras no séc. XX que alteraram significativamente as suas características. E também o edifício sede da Misericórdia de Arez composto por igreja, sacristia e outras dependências. Originalmente foi capela do Espírito Santo e com a fundação da Misericórdia de Arez em 1592 sofreu uma intervenção que se prolongou até ao séc. XVII. A planimetria, volumetria e características arquitectónicas do edifício integram-se numa corrente maneirista-chã de cariz regional. Do património móvel e integrado destacam-se o retábulo-mor, a escultura da Santíssima Trindade e as pinturas murais. As da nave, duas campanhas principais, representam retábulos fingidos seguindo modelos da retabulística nacional em madeira entalhada. Da primeira campanha fazem parte os retábulos com frontão contracurvado e colunas com capitéis coríntios, de finais do séc. XVIII. Já os retábulos de perfil neoclássico, com frontões triangulares e emblemas marianos, pertencerão a uma campanha mais recente, talvez do séc. XIX.
Neste projecto desde o início foi considerado prioritário o envolvimento das várias áreas disciplinares relacionadas com o património. Nos inícios de 2010, as duas investigadoras e Patrícia Monteiro, que desenvolve tese de doutoramento sobre pintura mural do Alto Alentejo, realizaram uma visita ao edifício. A investigação resultante de trabalhos académicos produz conhecimento, em si mesmo de inegável valor, mas que ganha nova valia ao reverter para um caso concreto, torna-se conhecimento aplicado e com impacto na comunidade.
A nível técnico foram também contactadas a Direcção Regional da Cultura do Alentejo e o Gabinete do Património Cultural da União das Misericórdias Portuguesas.
Em Junho de 2011 realizou-se nova visita ao edifício com alunos do Curso de Especialização Tecnológica em Conservação e Restauro do Instituto de Artes e Ofícios da FRESS e o professor Joaquim Caetano que, além de ter constituído motivo de estudo, teve como objectivo delinear uma estratégia para a conservação das pinturas murais existentes na igreja.
O grupo foi recebido pelo Provedor José Fazendas e outros membros da Mesa Administrativa e do diálogo resultaram três ideias fundamentais: isolar o telhado com subtelha, evitar o uso de novos revestimentos à base de cimento e conservar e restaurar as pinturas murais pois, independentemente do seu valor estético, são testemunho do gosto de uma época.
Fez-se uma sondagem na parede fundeira da capela-mor onde se detectou pintura decorativa simulando silhares de azulejo enxaquetado do séc. XVII.
O diálogo estabelecido entre promotores da obra, técnicos de conservação e restauro e historiadores da arte evidencia os bons resultados que procedimentos deste tipo proporcionam, devendo servir como exemplo a outras intervenções.
Seguidamente procurou-se sensibilizar a comunidade local para a importância do património cultural, da sua conservação e o seu envolvimento no projecto; mobilizando-se a Comissão de Festas de Arez de 2011 para a angariação de fundos que reverteram para a intervenção.
Após este processo, no verão de 2011, iniciou-se a intervenção nos telhados, rebocos e pavimentos que estará concluída no início de 2012 e definiram-se projectos futuros para o património cultural da Misericórdia de Arez: novas sondagens na capela-mor e a instalação do recuperado arquivo histórico da Misericórdia numa das dependências do edifício.
* Ana Santos Leitão, Joana Balsa de Pinho, Joaquim Caetano e Patrícia Monteiro
** Texto publicado no mensário “Voz das Misericórdias” – Dezembro 2011

NISA: Os poetas do concelho (I) - José Hilário


PRESENTES DE NATAL

Ofereço-te o meu sorriso
E o meu abraço fraternal
Peço-te Jesus, por ser preciso
Que o espírito de Natal

Além de beijos e presentes
Com ceias, cheias de iguarias
Que haja paz...Todos os dias!
E cessem as guerras pungentes

Avareza, ódio e arrogância 
São o tempero da ganância
Esta vil vida é uma contenda

Onde impera a desigualdade
Dá-lhe paz, amor e fraternidade
Não dês a miséria como prenda.
José Hilário


quinta-feira, 10 de dezembro de 2020

NISA: Pequenos retratos da Emigração

Este parte, aquele parte / E todos, todos se vão. / Galiza, ficas sem homens / Que possam cortar teu pão.
 – Rosália de Castro (poetisa galega)

Eu fui p´ra longe, p´ra muito longe, o que eu passei para lá chegar...
A emigração portuguesa para França, nas décadas de 60 e 70 do século passado, particularmente, a dos norte-alentejanos, em busca da esperança e de melhores condições de vida, representou uma autêntica epopeia, escrita com palavras de sofrimento, coragem e saudade. Está por fazer, ainda, o retrato dessa época em que as aldeias e vilas do Alentejo começaram a ficar desertas e a verem partir, pela calada da noite, os braços válidos e activos dos homens a quem o país negava o essencial de uma vida digna.
Falar de emigração
Nisa, três da tarde, num dia de calor sufocante. A casa, no Boqueirão, onde funcionou durante anos a delegação concelhia da Assistência Nacional aos Tuberculosos, de triste memória, serve agora de Centro de Convívio onde idosos de várias idades podem jogar às cartas, xadrez, dominó, ver televisão ou ler jornais e revistas.
Aí encontrámos um grupo de nisenses, com uma história de vida comum, a da emigração. Três deles demandaram terras de França, e são viúvos. O outro, abalou até Lisboa. Todos, à procura de uma vida melhor.
Percursos de vida que quiseram partilhar connosco e que constituem pequenas amostras da realidade social e política vivida em Portugal nos anos 60.  
Joaquim da Graça Basso, o mais velho do grupo, tem 81 anos, 22 dos quais a trabalhar em França na região de Tours.
“Fui para França em 1965 à procura de trabalho e de melhores condições de vida. Em Nisa estive até aos 35 anos, partia e fornecia pedra para as obras. A minha mulher vendia peixe. Era uma vida de sacrifício e pouco rentável, mas íamos sobrevivendo, até que começou a faltar trabalho e fui obrigado a emigrar. Estive três meses a trabalhar sem contrato, como servente. Depois as coisas compuseram-se e ganhei a minha reforma a trabalhar na construção civil.”
Joaquim Basso não gosta de recordar o que passou para chegar a França e prefere, antes, lembrar o que a vida de emigrante lhe proporcionou.
“Trabalhávamos muito e no duro, mas se não tivesse emigrado nunca poderia ter construído o prédio que tenho e ter pago os estudos ao meu filho que se formou em Medicina. Acho que os emigrantes deviam ser homenageados em Nisa, com um monumento, para que as pessoas não esqueçam o regime que tivemos e a história dos milhares de nisenses que foram obrigados a partir, uma história escrita com sangue, suor e lágrimas”.
Manuel Quintino da Silva Dinis (Manuel Comporta), com 70 anos, é o mais novo dos quatro, e talvez por isso, o que tem mais “fresco” na memória, o drama da emigração.
“Fui para França, “a salto”, clandestinamente, em1966. Trabalhava no campo e ganhava-se pouco. Segui o rumo de outros conterrâneos e do que passei para chegar a Toulouse, fiz umas quadras para registo dos mais novos. Em França trabalhei 3 anos na construção civil e mais tarde numa estação de serviço da Móbil onde passei à reforma, em 1996. Dois dos meus filhos nasceram em França, um foi de cá com mês e meio de vida. Reparto a minha vida entre França e Portugal. Venho muitas vezes a Nisa matar saudades, os meus filhos gostam da terra e também cá vêm.”
Manuel Dinis fala da França com orgulho e gratidão. 
“Deu-me trabalho, uma vida melhor e mais digna. Deu-nos a liberdade que cá não tínhamos e por isso também penso que se justifica uma homenagem aos emigrantes, aos filhos de Nisa que abalaram para França, para outros países e também para Lisboa e outras terras portuguesas. Um monumento seria de inteira justiça, pelo que nós sofremos e pelo que demos ao país.”
António Maria Marquês, 80 anos, não precisou de passaporte de turista, nem de ir “a salto” para rumar até à capital.
“Tinha 34 anos quando abalei para Lisboa. Trabalhava no campo, nem sempre havia trabalho, ganhava-se mal e era preciso sustentar a família. Trabalhei na Presmalte e na Fábrica de Fogões Portugal, na Póvoa de Santa Iria. Reformei-me aos 65 anos e regressei a Nisa. Como me sentia com forças e durante algum tempo ainda trabalhei como servente de pedreiro.”
Gosta de passar a tarde no Centro de Convívio, quando há companheiros e ali se entretém a jogar dominó e a olhar de soslaio algum programa de televisão.
De França, ouve com atenção o que os companheiros lhe contam e dá o seu assentimento à ideia de um monumento aos emigrantes, ele que também foi emigrante no seu próprio país.
António Maria Salgueiro, abalou para França em 1966. Fixou-se na zona onde residem e trabalham a maioria dos nisenses em terras gaulesas, a vila de Azay-le-Rideau, na região de Indre et Loire, no centro de França. Emigrou pelas mesmas razões dos seus companheiros, tendo trabalhado na construção civil e numa fábrica de tijolo.
Reformado, 79 anos, divide a sua vida entre Portugal e França. 
“ A França deu-me a vida que tenho. Cá andava sempre com uma mão detrás e outra à frente. Tenho três filhos, dois estão em França e a minha filha está na Policia, em Lisboa. Gosto de vir a Nisa e encontrar-me com os meus “artilheiros”, passar um pouco de tempo no jardim, no centro de convívio ou a fazer qualquer coisa no campo. Quem se habituou ao trabalho nunca se desabitua. Em França para se ganhar e poupar alguma coisa tínhamos que trabalhar no duro. Não pensem que nos davam o salário e as condições de mão beijada. Não. Por isso, concordo com o que disseram sobre o monumento aos emigrantes e acho que já devia estar feito.
Os nisenses estão bem vistos e integrados em França, principalmente na região de Tours, onde moro. É justo que reconheçam o que nós fizemos pelo país”.
Jaime Cortesão em “Os Emigrantes” escreveu: “ Partir é quase morrer. / Pode ser p´ra nunca mais: / Dentro do peito a bater / Um sino toca a sinais".
Manuel Dinis (Comporta) deixa-nos um relato, em verso, do que foi a epopeia da emigração portuguesa clandestina para França. Um drama que ele próprio viveu e sentiu na pele. Em busca de um futuro melhor!
Mário Mendes in "Alto Alentejo"

A ida de um clandestino de Portugal para França – Anos 60
Abalei da minha terra
Sem dinheiro nem passaporte
Com destino para França
Sujeito a encontrar a morte

Foi de Nisa que parti
Com os olhos todos molhados
Deixando a minha mulher
Há pouco tempo casados.

A Castelo Branco cheguei
Para o passador encontrar
Daí tomámos o rumo
Para um rio atravessar.

Estivemos no meio de um mato
Uma noite e um dia
Cheio de frio e fome
Com a barriga vazia.

Chegámos a uma terra
Que se chamava Naves Frias
Aí estivemos fechados
Cinco noites e cinco dias.

Éramos catorze homens
Dentro deste palheirão
À espera que nos dessem
Um bocadinho de pão.

Daí seguimos viagem
Cansados mas sorridentes
De catorze já passámos
A ser mais de duzentos.

Quando foi à noitinha
Toda a gente se pôs de pé
Foi esta a maior etapa
Quarenta e quatro horas a pé.

Éramos só dois de Nisa
Tinha um bom companheiro
É um rapaz que se chama
O amigo José Salgueiro.

Ao fim de quarenta e quatro horas
Aí parámos então
Para descansar um pouco
À espera de um camião.

... Chegámos então a França
A um monte fomos parar
À espera do bilhete
Para o comboio apanhar.

Doze dias eu demorei
Para este país encontrar
Não desejo a ninguém
Este sacrifício passar.

Todos estes sofrimentos
Toda esta amargura
Para deixar o país
No tempo da Ditadura.

Só os ricos é que mandavam
Nós nem podíamos falar
Podemos “agradecer”
A um chamado Salazar.

É isto que me dá pena
É isto que me revolta
O autor destes versos
Chama-se, Manuel Comporta.

Sem dinheiro para a viagem
Para pagar ao passador
Foi a minha avó Pelota
Que me fez este favor.

Com isto vou terminar
Manuel Comporta me assino
Para que toda a gente saiba
O que foi um Clandestino!

Manuel Comporta - 6 Março de 1966


OPINIÃO: Uma vitória do centralismo

É um sinal perigoso aquele que nos chega de Bruxelas, relativamente ao orçamento da União Europeia para o período 2028/2032. Sobretudo no ca...